Certo dia, um homem aflito em seu coração, resolveu procurar ajuda e dispôs-se a recorrer a Deus. Este homem lembrou-se de um ancião que havia visto, que sempre falava de Deus a todos a quem encontrava, mas chegando na casa deste, pela manhã, bem cedo, não o encontrou. Aos primeiros raios do sol, avistou na porta da choupana de madeira, um recado escrito com brasa, num pedaço de couro curtido:
“Fui encontrar com Deus, quem também assim o desejar, siga sempre na direção da luz, para onde quer que esteja.”
Avistou ainda, na parede da varanda, outro recado, próximo a uma mesa, com uma cadeira e sobre esta, um livro. Neste couro estava escrito:
“Esta é a palavra de Deus. Consultem-na sempre que precisar e voltem para ler e meditar até que a palavra esteja em vocês, em palavras e atitudes.”
O homem leu rapidamente a página que estava marcada por uma fita, percebendo que estava sublinhada a seguinte frase:
“Entrega teu caminho ao Senhor, confia Nele e tudo o mais Ele o fará.”
Percorreu com os olhos o texto, onde também estava escrito, saltando-lhe à vista:
” tua justiça brilhará como o sol ao meio dia.”
Tal homem queria receber tudo o que julgava merecer e ter vitória contra seus adversários.
Olhou ao redor, sem saber para onde ir, retirou um significado de “seguir sempre na direção da luz” e de “justiça como o sol”, olhou para o sol nascente, tornado rosadas as nuvens, irradiando seus raios de calor, naquela manhã fria e resolveu dirigir-se ao rumo poente.
Apreciou o jardim, com margaridas, flores de maio, árvores frutíferas, regadas pelo orvalho e sentindo sede, posta a longa caminhada feita e por fazer. Avistou o poço artesiano, um balde e uma corda e mais um recado escrito em couro:
“Quem beber dessa água, nunca mais terá sede.”
Jesus Cristo
Bebeu o quanto pode daquela água fresca, limpa e cristalina, lavou o rosto, molhou o lenço que pôs sobre a cabeça e seguiu rumo a oeste.
Tendo se posto a caminhar, admirou sua sombra e apercebeu-se de quanto estava comprida e orientando-o para onde seguir. À medida que as horas se passaram, notou que ela diminuía e perdia sua companheira de jornada. Ao meio dia, pisava sobre ela tão somente e meia hora depois, tinha o sol por direção a frente aos seus olhos e deixara sua sombra para trás.
Já sentindo enorme sede e indispôs-se com o tal Jesus Cristo, o tal mentiroso, que afirmara sobre aquela fonte mágica. Decidiu tomar satisfações e seguia obstinado na direção do poente. Observando a sombra dos demais, lembrou-se de olhar para a sua, que o seguia por onde quer que fosse e percebeu também que ela voltara a crescer e deu-se conta de que o sol já se ocultava atrás dos montes distantes.
Ao fim do dia, sedento, desolado, ao pedir água num casebre, recebeu a mais que o que pedira: um pão, juntamente com a frase:
_ Irmão, você precisa é de Jesus, ele é o pão da vida, quem o encontra, jamais sentirá fome.
Indignou-se:
_ Eu venho o dia inteiro atrás desse Jesus, mentiroso, safado, estive na casa dele, bebi de sua fonte e estou sedento como um camelo. Desabafou seus problemas, sua indignação e o jovem interessou-se logo em saber onde Jesus morava.
Esclarecidos os fatos, o rapaz sentou-se com o homem andarilho, orou e explicou:
Jesus é a luz do mundo, suas palavras são luz para o caminho, são a verdade e a vida, quem anda com Ele, deixa para trás seu passado, suas memórias que o assombram e perturbam, tornando-se nova criatura. Aqueles que o perseguem, em breve não mais estarão em seu caminho, aos poucos, os procurarás e não os achará. Seus inimigos estarão sob a planta dos seus pés, pois isso é promessa divina. Siga em frente e não olhe para trás, abandone seu passado, pois em Cristo Jesus, tudo se faz novo.
Neste momento, o andarilho já estava aos prantos, pois sentia o amor de Deus falando com ele através daquelas palavras e descobriu que Este Deus, era o bem mais precioso podia possuir.
Lembrou-se de sua sombra à sua frente, mostrando a Ele que para que sua Justiça seja feita, é preciso que a sombra diminua, a partir da luz sobre a sua cabeça, entendeu que a partir disso, quem olha para luz, não tem mais sombras ou não mais as persegue e decidiu que esta era a nova vida que desejava.
Resolver caminhar e por toda a noite, tendo por companhia a lua e decidiu que como tal, repartiria da luz que lhe fora concedida. Ao amanhecer chegava de volta ao jardim, de onde iniciara sua jornada e entrou na choupana onde pôde repousar o corpo.
Ao despertar, apanhou a bíblia de sobre a mesa e pôs-se a ler de tal forma que não interrompia sua leitura para coisa alguma.
Após três dias de leitura, tornou-se insuportável sua fome, colheu frutas no quintal, sentou-se para comer e foi surpreendido por um grupo de peregrinos, ansiosos por cobri-lo de perguntas. Respondeu a estes, não com suas palavras, mas com tudo o que acabara de aprender. Aquelas palavras jorravam como água da fonte, a partir de sua boca. Ao perceber a felicidade e contentamento daquele grupo, que já se despedia, entendeu então, que era o momento de retirar os recados da porta e da parede.
Fazendo isso, apercebeu-se que no verso do couro, havia um calendário judaico, onde estava marcado o mês de Nissan e a Lua Nova.