A piedade e a generosidade de pessoas boas podem se transformar em uma folha de papel em branco assinada nas mãos de um psicopata. Quando sentimos pena, estamos vulneráveis emocionalmente, e essa é a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós.
CAPÍTULO 3
PESSOAS NO MÍNIMO SUSPEITAS
Acredito que todo mundo conheça uma pessoa meio imprestável, movida a manivela, encostada no outro e vivendo folgadamente às custas desse. Vamos lá, faça um esforço e vasculhe os “arquivos” salvos em suas pastinhas mentais. Certamente você encontrará um amigo ou amiga, um cunhado, um parente distante, um conhecido, ou em última instância, se lembrará de uma história que lhe contaram. Estas pessoas estão sempre com desculpas na ponta da língua, justificando que os tempos estão “bicudos” e que arrumar um emprego não está nada fácil. Também existe aquela velha história de dói aqui, dói acolá, e enfrentar o batente não vai dar. Pois é, então analise este comportamento aparentemente inofensivo e que pode ser encontrado ao nosso redor:
Maria se formou em odontologia antes de completar seus 22 anos e deu seu grito de independência. Arrumou seu primeiro emprego dentro da área que escolheu e alugou um pequeno apartamento no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, Carla, uma conhecida do interior de Santa Catarina e dois anos mais jovem, entrou em contato. Papo via, papo vem, Carla perguntou se poderia passar tempos em sua casa, já que as chances de emprego e estudo eram bem maiores.
Maria não viu nada demais naquele pedido. Ao contrário, “deu a maior força”, na intençaão de ajudá-la. Para Maria, dar apoio a uma “amiga” era absolutamente natural e, de mais a mais, ela estava morando sozinha. O que custava acolher alguém por alguns meses na sua casa? Carla chegou de mala e cuia e se acomodou no apartamento pequeno, mas bem equipado.
Maria trabalhava o dia todo e estudava com afinco para dar conta de seu curso de pós graduação que iniciara, fazia alguns meses. Carla ficava em casa, assistindo ‘a TV, recebendo amigos e assaltando a geladeira. Se havia uma coisa que Carla sabia fazer muito bem era conquistar as pessoas e conduzir com habilidade uma conversa agradável. Isso era um verdadeiro dom. Levava quem quisesse no “bico” e desfrutava do bom e do melhor, sem pagar absolutamente nada por isso.
Meses a fio se passaram e nada de estudos ou emprego ‘a vista. As oportunidades que surgiam, Carla dizia que não era aquilo que estava procurando. Comia, bebia, pendurava-se no telefone, ia a praia quando Deus mandava bom tempo e passeava com os amigos. Vez por outra ligava para seus pais e mentia que estava trabalhando e pedia algum dinheiro para ajudar nas despesas. Maria trabalhava, estudava, fazia as compras, chegava exausta e olhava aos seu redor, copos sujos no mesmo lugar, roupas espalhadas, os tocos de cigarro infestando o ambiente., as tarefas por fazer e as panelas vazias.
Convenhamos, por quanto tempo você, leitor, aguentaria tamanho abuso?
O tempo se passou e esse “chove não molha” se arrastou por quase um ano. ‘A beira de um ataque de nervos, Maria conversou uma, duas e sei lá quantas vezes para que Carla arrumasse um emprego e seguisse seu caminho. Carla ouvia tudo, abaixava a cabeça e dava uma desculpa básica: “Pensei que você fosse minha amiga, eu não tenho para onde ir. Voltar para a casa de meus pais é o mesmo que amargar uma derrota. Não sou capaz de suportar.”
A gota d’água foi quando Carla embolsou o dinheiro do aluguel que Maria entregou em suas mãos para que que fizesse o favor de pagá-lo na imobiliária. E lá se foi sua “amiga”, de mala e cuia, para a casa de outra conhecida, com as mesmas desculpas e o mesmo discurso. Maria sentiu descer garganta abaixo um gosto misto de alívio, tristeza e culpa.
Poderíamos dizer que Carla é um psicopata leve? Não, por enqunto isso seria precipitado e imprudente. Afinal, temos que ter em mente a imaturidade de Carla e que esse comportamento “irresponsável” pode ser fruto de sua própria cultura. Em suma: uma malalandragem “inocente” de uma pré-adulta perdida, que ainda coloca a mochila nas costas e acampa na casa de quem lhe oferece abrigo.
Chorando suas pitangas
Mais de quinze anos se passaram e mesmo com esses tropeços iniciais, Maria e Carla eventualmente se encontravam. Nesse longo período, Maria se casou, sua profisão deslanchou e teve uma vida estável. Carla, por sua vez, teve uma vida pulando de galho em galho (em casa de amigos, namorados), esfolando um e outro. Reclamava de tudo e de todos, jogava uma pessoa contra outras e não parava nos empregos. Ela sempre tinha razão, a culpa era do outro e o mundo sempre que estava errado! Mas, paradoxalmente, ela era envolvente e com isso sabia muito bem explorar os bons sentimentos que despertava nas pessoas.
Há alguns anos Carla mora sozinha no seu próprio apartamento, que, diga-se de passagem, foi comprado com o sacrifício de seus pais. Maria ‘as vezes questionava o comportamento de sua amiga, mas no meio de tantos afazeres isso se diluia; apenas seu coração amolecia, cada vez que Carla chorava suas pitangas. Carla, como quem não quisesse nada, chegava de mansinho, pedia dinheiro emprestado, usava o computador por longas horas, usufruía de seu telefone, pegava emprestado livros, CDs, aproveitava a boquinha livre, alugava o ouvido de Maria...
Certa noite, elas comemoravam o aniversário de um amigo em comum num restaurante. Estavam todos por lá: familiares e conhecidos que a vida lhes trouxe na bagagem. Carla acendeu um cigarro e baforou lentamente uma bola de nuvem branco –azulada sobre a mesa. Maria discretamente ao pé do ouvido falou: “Vamos até a varanda; ao seu lado tem uma amiga grávida de cinco meses.” Carla deu de ombros, olhou bem nos olhos de Maria e sussurrou: “Dane-se, aqui é uma área reservada para fumantes. Esse filho não está na minha barriga e se perder será um pirralhoamenos no mundo.”
Maria estremeceu. A força fria e penetrante do olhar de Carla fez com que todas as lembranças invadissem sua mente: lembrou-se do dinheiro do aluguel, das vezes que precisou de sua amiga e ela nunca esteve presente, da falta de carinho com as datas importantes de sua vida, da ausência quando passou vários dias hospitalizada, de tudo o que emprestou e nunca mais viu a cor, das mentiras e da falta de respeito por seus pais. Lembrou-se também do dia em que um menino caiu em sua frente e enquanto ele chorava, Carla ria e dizia “bem feito, tomara que tenha quebrado o braço”. A partir de então Maria refletiu: “ Caramba, estou alimentando um monstrengo!” Ela se levantou e não olhou mais para trás. Foi a última vez que viu Carla...
Se analisarmos bem, Carla jamais teve consideração e afetos verdadeiros por Maria e nem por qualquer outra pessoa que lhe estendeu as mãos. Ela mentiu, enganou, roubou e viveu na “aba do chapéu” de todos. Recebeu muito, mas nunca deu nada em troca. Quanto aos seus pais, ela está fazendo as cotas e esperando que morram para herdar tudo o que lhes resta. Agora tudo está mais claro: aquela pessoa que por muito tempo parecia ser frágil, injustiçada e levemente desonesta, na realidade não tem consciência.
"…E EU QUE ACHEI UMA COISA MAIS AMARGA QUE A MORTE, A MULHER CUJO CORAÇÃO SÃO REDES E LAÇOS, E CUJAS MÃOS SÃO ATADURAS; QUEM FOR BOM DIANTE DE DEUS ESCAPARÁ DELA, MAS O PECADOR VIRÁ A SER PRESO POR ELA…"
ResponderExcluir[ECLESIASTES 7:26]
Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
ResponderExcluirE surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.
E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.
Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.
Mateus 24:10-13